O Censo reafirma: no Brasil, é mais fácil ser branco

30/06/2012
Por Leonardo Sakamoto no Blog do Sakamoto

De tempos em tempos, sai alguma nova pesquisa apontando que negros ganham menos que brancos no Brasil. Quando toco nesse assunto no blog, sempre aparece um gênio que diz algo como “Meu Deus, você não entende nada de política corporativa! Ou acha que seria permitido em uma grande empresa uma pessoa branca ganhar mais que uma negra pela mesma função?”.

O comentário demonstra uma certa incapacidade do leitor de extrapolar o pensamento para além do visível (como uma pessoa que cita o sobrenatural não consegue trabalhar com abstrações? Curioso…) e imaginar que estamos falando de uma média da sociedade.

Somos bombardeados com o mito da democracia racial brasileira, construído para servir a propósitos. Mito que se prova verdadeiro em novelas, minisséries ou alguns programas de TV, normalmente concebidos por brancos, mas que na vida real são tão concretos quanto a curupira, o boto e a mulher de branco.

“Ah, mas o preconceito no Brasil é contra pobre, não contra negro!” A despeito do fato de haver, proporcionalmente, mais negros entre os pobres do que brancos, por conta de uma herança maldita deixada por uma abolição que nunca ocorreu totalmente, a discriminação pelos não-brancos vive saudável por aqui.

Continue lendo »


O Brasil sem Chico é mais sem graça

23/03/2012

Por Aurélio Munhoz* na Carta Capital

As longas reportagens laudatórias veiculadas na imprensa sobre Chico Anysio não fizeram jus à sua biografia. Pelo menos não do jeito que deveriam ter feito. A costumeira pressa – e sobretudo a ausência de coragem de contrariar os interesses dos barões da mídia – impediram a quase totalidade dos veículos jornalísticos de explicar ao Brasil as verdadeiras razões pelas quais o homem foi um dos maiores humoristas brasileiros.

Chico foi um dos ícones do gênero porque foi o principal responsável pela criação e desenvolvimento de um modelo de humor feito com genuína inteligência, sensibilidade e criatividade. Humor de personagens (mais de 200, no seu caso) identificados com a sociedade brasileira, feito por um profissional do riso verdadeiramente talentoso. Humor de um artista de verdade, forjado na lida do rádio e do teatro, que não raro escrevia seus próprios textos e se preocupava em transmitir conceitos e valores com sua arte. Humor não é só riso e dinheiro, enfim.

Não falamos aqui do talento de Chico Anysio como escritor, dublador e até pintor respeitado, mas da sua extraordinária capacidade de usar a graça, a inteligência e o senso crítico para encarnar tipos atemporais que retratam as mais variadas facetas da alma brasileira, boa parte dela figurinha carimbada da grande mídia – a boa e a ruim, a honesta e a corrupta, a culta e a ignorante, a humilde e a prepotente.

Continue lendo »


E aí, Kamel, não somos racistas? Negro é chamado de macaco e agredido quase até a morte por jovens brancos em SP

22/03/2012

Aconteceu na madrugada de domingo, em Embu das Artes, na Grande São Paulo. Ivan Romano foi atacado covardemente por Wellington Rodrigues, de 23 anos, e Vinicius de Almeida, de 19. Só escapou porque se fingiu de morto. Câmeras de segurança da prefeitura registraram tudo. Ivan Romano tem 43 anos e é morador do Jardim Sílvia, em Embu das Artes.

Hoje, três dias após a agressão, é Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. Aquela que Kamel já eliminou do Brasil, mas que o cotidiano das ruas desmente a toda hora, obrigando a TV Globo, de que Ali Kamel é Diretor de Jornalismo, a desmentir sua tese a socos e pontapés.


Por que só pobre tem parente na cadeia?

19/03/2012
 
Por Leonardo Sakamoto no seu Blog

Curta e didática entrevista que foi publicada neste domingo (18), por Kátia Lessa, na revista “sãopaulo”, encartada no jornal Folha de S. Paulo, sobre um grupo de moradores que convocou um panelaço no Parque do Povo (sic), no Itaim Bibi – bairro nobre da capital. A ouvida foi Fernanda Papa, uma das organizadoras do evento:

Qual a inspiração para as panelas? 

Participei do último panelaço na Argentina durante as minhas férias. Temos que aprender com eles a fazer mais barulho. 



O que vocês querem? 

Segurança nas ruas. Poder sair com meu relógio em paz. Convidamos moradores dos bairros de Pacaembu, Morumbi e Alto de Pinheiros.

E o pessoal do Itaim Paulista?
Falei com minha empregada e minha manicure. Elas moram na periferia. Mas grande parte das pessoas de tais regiões tem familiares detidos. Eles não se sentem bem nessa posição. 



Gente diferenciada” pode participar?
Deve. De norte a sul, de leste a oeste. Só não vale político aproveitador.

OK. Todo mundo deve ter o direito de protestar e manifestar suas opiniões em público. Isso é ótimo para a democracia, garante transparência. E uma vez aceitando participar abertamente do jogo político ao falar, também terão que ouvir em algum momento.

Mas é fascinante a terceira resposta: “Falei com minha empregada e minha manicure. Elas moram na periferia. Mas grande parte das pessoas de tais regiões tem familiares detidos. Eles não se sentem bem nessa posição”.

Continue lendo »


Piores que Hitler

09/03/2012

Por Cynara Meneses, Carta Capital 

Adolf Hitler, responsável pela morte de 6 milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial, era um entusiasta do automóvel, todo mundo sabe. Nunca se viu Hitler falando bem da bicicleta ou de ciclistas –tampouco falando mal. Tanto é que havia companhias ciclistas no Exército alemão, como muitos exércitos naquela época, e a própria SS tinha uma tropa ciclista. Um grupo da juventude hitlerista cruzou a Grã-Bretanha inteira em 1937, em um tour que foi visto como um ato de “espiciclismo”. Ou seja, tudo indica que até os nazistas respeitavam a bicicleta como meio de transporte.

Hitler chega a aparecer em um cartão postal posando simpaticamente ao lado de ciclistas. Também Benito Mussolini aparece em duas fotos: numa, pedalando uma bicicleta diferente, com guidão ao lado das pernas e roda da frente menor. Na outra, passando em revista a tropa ciclista dos lendários Bersaglieri, o corpo de elite do exército italiano conhecido por se deslocar em bicicleta. Os Bersaglieri haviam adotado a bicicleta no final do século 19, primeiro civis e depois fabricadas sob medida para os militares: dobráveis e mais robustas. As fotos acompanham este artigo, para quem quiser ver.

Continue lendo »


Se batem em “bichas” ou “mendigos”, a culpa pode ser sua

27/02/2012
Por Leonardo Sakamoto no Blog do Sakamoto

Enquanto isso, entre amigos da classe média…

– Uma puta! Alguém pega o extintor para jogar nessas vadias.

– Um índio! Alguém pega gasolina para a gente atear fogo nesses vagabundos.

– Um mendigo! Alguém pega um pau para a gente dar um cacete nesses sujos.

– Umas bichas! Alguém pega uma lâmpaga fluorescente para bater nessas aberrações.

Duas pessoas em situação de rua foram queimadas neste sábado (25) em Santa Maria, cidade-satélite do Distrito Federal. Um rapaz de 26 anos não resistiu às queimaduras de terceiro grau e morreu no dia seguinte. A outra vítima, um homem de 42 anos, está internado em estado grave.  Testemunhas afirmam ter visto um grupo de pessoas primeiro incendiando um sofá e depois queimando os dois enquanto dormiam, utilizando um líquido inflamável.

Bater em “puta” e “bicha” pode. Assim como em índio e “mendigo”. Lembram-se do pataxó Galdino, que morreu queimado por uma “brincadeira” de jovens da classe média brasiliense enquanto dormia em um ponto de ônibus em 1997? Ou a população de rua do Centro de São Paulo, que vira e mexe é morta a pauladas enquanto descansa? Até onde sabemos, apesar dos incendiários brasilienses terem sido presos, eles possuíam regalias, como sair da cadeia para passear. E na capital paulista, crimes contra populacão de rua tendem a ser punidos com a mesma celeridade que agressões contra indígenas no Mato Grosso do Sul.

Continue lendo »


Desfile de escolas de samba de SP pode sofrer interferência política

19/02/2012

 por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania

A escola de samba Gaviões da Fiel foi a penúltima a se apresentar. Desfilou nos estertores da madrugada de domingo (19) e superou expectativas pela qualidade técnica da apresentação, pelo esmero das alegorias e pela surpreendente criatividade.

Com o tema “Verás Que o Filho Fiel Não Foge À Luta – Lula o Retrato de Uma Nação”, a Gaviões foi tecnicamente irretocável. A riqueza das alegorias, a evolução competente e milimetricamente sincronizada uniu-se a expressiva empolgação do público.

O desfile da escola foi aberto por temas mais políticos, com alas de nomes sugestivos como ABC da Vida, Caça às Bruxas, Porões da Ditadura, Voz que Não se Cala, Diretas Já e pelo carro alegórico Duelo da Democracia contra o Dragão da Ditadura.

Em seguida, vieram alas, baterias e carros alegóricos que destacaram a obra social da era Lula, com as alas Prato Cheio, Busca do Saber, Carteira de Trabalho Assinada, Quem Casa quer Casa, Energia e Progresso e Estabilidade da Moeda.

Quando a ala sobre a moeda estável entrou na avenida, a locução da Globo fez questão de lembrar que a estabilidade também seria obra de FHC.

Destacaram-se, entre as celebridades presentes, Fábio Assunção, Sabrina Sato e a própria esposa de Lula, Marisa Letícia.

Continue lendo »


Isto sim é carnaval!!!

18/02/2012

 

Do Blog da Dilma

Editado(a) por Blog Justiceira de Esquerda


Os seguidores de Jair Bolsonaro

12/02/2012

Por Altamiro Borges no seu Blog do Miro

Nesta semana, o preconceito tomou conta da cena política. Não foi somente o grosseiro bispo de Assis, dom José Benedito Simão, que acusou a nova ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, de ser “uma pessoa mal-amada” por sua defesa do direito ao aborto. Outros trogloditas também esbanjaram fanatismo com seus ataques medievais, reacionários.

Numa reação aparentemente orquestrada, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) postou em seu twitter que a bancada evangélica se unirá “para combater a abortista”, também se referindo a Eleonora Menicucci. Para ele, a nova ministra “devia estar em Sodoma e Gomorra”. Os fundamentalistas não aceitam qualquer debate democrático na sociedade que questione os seus dogmas.

O “kit gay” dos preconceituosos

Já o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) exibiu em seu gabinete um cartaz contra o ex-ministro Fernando Haddad, “o candidato do kit gay”. Indagado sobre a provocação homofóbica, o neofascista disse que “coloquei aquilo para quem tem vergonha na cara não votar no Haddad”. Jilmar Tatto, novo líder do PT na Câmara, preferiu não dar trela para o exibicionista. “É um desqualificado”.

E o líder do PR no Senado, Magno Malta (ES), ameaçou mobilizar os evangélicos contra Fernando Haddad na eleição municipal de São Paulo. “Vamos derrotar o Haddad e qualquer um que acredite em ‘kit gay’ e aborto”, esbravejou o senador. Ele também chamou o ministro Gilberto Carvalho de “safado” por suas críticas à disseminação de preconceitos nas TVs controladas por evangélicos.

Campanha de baixarias em 2012

Esta nova onda preconceituosa, que estimula os piores instintos na sociedade, tem forte relação com a disputa eleitoral deste ano. Os oportunistas e os setores conservadores tentam ganhar terreno no tabuleiro político. A “guerra santa” lembra a campanha de José Serra em 2010, que utilizou as redes sociais para explorar temas religiosos e incentivar o ódio.

Confirmado este rumo, as eleições deste ano prometem novamente tristes cenas de baixaria, unindo diversas tribos e seitas. Com certeza, o papa Bento XVI será acionado outra vez. No início de janeiro, no seu tradicional discurso de ano-novo, ele chegou a afirmar que o casamento gay “ameaça a dignidade humana, bem como seu futuro”. O preconceito é mesmo uma praga!


Em briga de marido e mulher, agora se mete a colher

10/02/2012

por Leonardo Sakamoto em seu Blog

Tenho alguns amigos que, quando colocados contra a parede em temas considerados polêmicos, valem-se de pílulas de sabedoria para enfiar uma rolha na discussão, seja porque por preguiça de pensar, de discutir ou mesmo do interlocutor. Sim, sou chato e não me abalo com isso.

Um dos provérbios populares recorrentes que mais me irritam é “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. Pois, por trás do que parece um conselho para que a comunidade deixe o casal resolver seus problemas através do diálogo e se respeite a privacidade, está embutido o fechar o olho para outras coisas. Uma vez que não se sabe quem começou ou de quem é a culpa por um problema, o “correto” tem sido se calar. Pelo menos, essa é a recomendação do dito popular.

Como se existisse qualquer razão que justificasse uma agressão física. E como se a coletividade não tivesse responsabilidade pela garantia da dignidade de todos os seus membros – dignidade que é a razão que nos une como seres humanos, pois todos nascemos – pelos menos, em teoria – com direito a ela.

Muitas vezes, não se escutam gritos de socorro ou pedidos de ajuda ou eles são retirados após o calor do momento por medo do presente ou do futuro. Ou por saudade do passado, que sustenta a esperança. Ou por uma miríade de outros motivos que não foram suficientemente fortes para impedir que o Supremo Tribunal Federal decidisse, neste quinta (9), que um agressor pode ser processado por violência doméstica mesmo que a vítima não apresente queixa ou a retire. Por dez votos a um, a Corte seguiu o voto do relator Marco Aurélio Mello, liberando o Ministério Público para ajuizar ações sobre esses casos.

Em 1983, o ex-marido de Maria da Penha – o covarde Marco Antônio Herredia Viveiros – atirou nas costas da esposa e depois tentou eletrocutá-la. Não conseguiu matá-la, mas a deixou paraplégica. Muitos anos de impunidade depois, ele pegou seis anos de prisão, mas ficou pouco tempo atrás das grades.

A busca por justiça tornou-a símbolo da luta contra a violência doméstica. Em agosto de 2006, foi sancionada a lei 11.340, a Lei Maria da Penha, para ajudar no combate à violência doméstica. O STF confirmou a validade da lei em votação que antecedeu a decisão de tornar desnecessária a denúncia da agredida.

A confirmação foi importante. Ainda há juízes e policiais que cismam em não aplicá-la, arquivando casos e deixando a justiça naufragar em nossa sociedade patriarcal e machista. Maria da Penha recebeu R$ 60 mil do governo do Ceará devido a uma condenação de 2001 da Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Não alivia o que teve que enfrentar, mas faz com que a responsabilização do Estado fique cada vez mais clara. O Brasil se omitiu diante dela, como se omite diante de milhares de mulheres que, agredidas diariamente em silêncio, inventam quedas da escada para justificar olhos roxos ou usam roupas compridas para esconder hematomas.

Em uma sociedade que diz que um “tapinha não dói” (que vergonha alheia quando ouço alguém cantarolando isso…), a decisão do STF é uma lufada de ar fresco.

Deve ter deixado muito homem babaca irritadíssimo com uma suposta “interferência do Estado na vida privada”. Afinal de contas, quem esses juízes pensam que são? Eu bato na minha mulher/filha/mãe/irmã na hora que quiser e com o objeto que quiser! A esses criminosos, o meu desprezo.

Ainda bem que as decisões do STF sobre a interpretação da Constituição Federal visando à garantia de direitos não são tomadas com base em pesquisas de opinião ou para onde sopra a opinião pública em determinado momento. Afinal de contas, uma democracia verdadeira passa pelo respeito às minorias, garantindo sua dignidade mediante a uma maioria que pode ser avassaladoramente violenta.